quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

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Na secção de frescos do supermercado, um judeu, um hindu e um vegetariano dissertavam sobre as suas razões para não comerem certos tipos de carne ou, no caso do vegetariano, nenhum tipo de carne. «Não como carne de porco porque é um animal sujo, impuro, imundo, que come as suas próprias fezes», disse o judeu, cuspindo sonoramente para o chão. «Não como carne de vaca porque é um animal sagrado. Está até acima dos brâmanes na nossa escala social», disse o hindu, unindo as mãos e curvando-se respeitosamente. «Não como nenhuma espécie de carne porque os animais são nossos irmãos», disse o vegetariano, resumindo a sua tese na perfeição. Um leitão da Bairrada e uma vaca barrosã que, por acaso, passavam por ali aplaudiram sonoramente. Uma alface, uma couve tronchuda, duas cenouras, vários grãos de soja, um pé-de-feijão, uma lata de pêssegos em calda e três tomates afastaram-se, discretamente, em direcção à secção de electrodomésticos e foram esconder-se atrás de um enorme ecrã plasma.

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