quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

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Quando josé saramago morreu, deus estava lá à espera dele. É certo que o destino do escritor, ateu, comunista, jacobino, blasfemo, iconoclasta, materialista, já há muito estava traçado. Iria directamente para as chamas do inferno. Mas, mesmo assim, o senhor deus quis conhecer o inventor de uma das mais comoventes, amorosas e inspiradas criações literárias de sempre. O cão das lágrimas. Do que o senhor não estava à espera é que a alma de saramago fosse acompanhada pelo próprio cão, fiel ao seu criador até na morte. Apanhado de surpresa na canela direita, deus defendeu-se dando um violentíssimo pontapé no cão, que fez ricochete em várias nuvens até aterrar na quente e aterradora morada final que iria, naturalmente, partilhar com o dono. Caim, caim, caim, caim, ouviu-se ao longe o cão ganir.

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