quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

19


Depois de muitas peripécias rocambolescas, Camões acabou por naufragar ao largo do Vietname. Incapaz de salvar a sua namorada chinesa, Dinamene, o poeta tentou - num esforço exemplar e sobre-humano - salvar pelo menos a sua obra-prima, «Os Lusíadas», nadando só com um braço e mantendo longe das águas o manuscrito original do grande poema épico português. O Tubarão, que, andava a nadar por ali, vendo a tinta das magnas e heróicas letras a brilhar ao sol do Índico, nnnnhhhhacccc!, arrancou-lhe o livro da mão e ainda dois ou três dedos, para além do pé esquerdo, um olho (o outro já ele não tinha) e vários pedaços mais suculentos do estômago. De Camões nunca mais se ouviu falar. Mas o manuscrito ainda teve uma segunda vida: levado pelas correntes sem fim dos sete mares, acabou - séculos depois - por ficar encravado num iceberg do Atlântico Norte. Um dos náufragos do Titanic que, por acaso, até sabia ler português descobriu o manuscrito quando estava a dar o seu último, involuntário e trágico mergulho. «As armas e os barões assinalados, que da ocidental praia lusitana...», leu ele, antes de exclamar - com verdadeiro assombro - «Hei, isto não é nada mau!». A seguir, ficou congelado.

Sem comentários:

Enviar um comentário