quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

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Pela calada da noite, o ladrão entrou no palácio pela janela e dirigiu-se imediatamente à terceira gaveta a contar de baixo de um móvel Luís XV, folheado a ouro, que se encontrava do lado esquerdo da enorme biblioteca. Segurando a lanterna com os dentes, as mãos enluvadas do ladrão rapidamente encontraram um botão disfarçado na madeira, que deslocou uma tampa intermédia e abriu o esconderijo secreto. Quando estava quase, quase, a agarrar o que procurava, um ruído inesperado fê-lo recuar e esconder-se atrás de um belíssimo cadeirão forrado a veludo vermelho. Era o mordomo, que acendeu as cem lâmpadas do lustre de cristal que coroava a biblioteca, enquanto olhava para todo o lado com o sobrolho franzido. Não tendo visto nada de suspeito, o mordomo desligou a luz, fechou a porta e foi-se embora. «Uff, foi por pouco!», murmurou o ladrão enquanto limpava umas geladas gotas de suor com a luva. No quarto da condessa, o mordomo enfiou-se entre os lençóis e perguntou à amante: «Achas que os leitores vão ficar muito chateados se não ficarem a saber o que raio escondes no fundo daquela gaveta?».

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